Texto originalmente publicado no Estadão, no dia 1º de Maio de 2020:
https://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/o-dia-do-trabalho-em-meio-a-pandemia/
Toda crise acelera os processos de transformação, seja ela na sociedade, na vida dos indivíduos (pessoal + profissional) ou nos pequenos detalhes do dia a dia. No mercado de trabalho não será diferente agora. Em plena tormenta do COVID-19 se olharmos pra trás já podemos observar que em pouco mais de 1 mês todo aquele ecossistema corporativo moderno que foi construído ao longo dos últimos anos já se ajustou as novas tendências que a carreira pós coronavírus irá demandar.
Exemplos não faltam, tanto para os empresários como para os profissionais em busca de uma nova oportunidade: Ao fim da segunda guerra mundial, o fundador da Nutella (Pietro Ferrero) resolveu acrescentar Avelã ao chocolate por conta da escassez de cacau na Europa para que seu produto rendesse melhor. Mais recentemente notamos profissionais de diferentes indústrias migrando pra área de Tecnologia. Engenheiros, Economistas, Administradores que eram disputados por áreas, em teoria, mais “glamurosas” como bancos, consultorias ou grandes empresas de consumo trocaram a gravata por Start ups, FINTECHS e empresas de inovação.
Claramente esse “novo normal” pra carreiras e profissões irá tirar lições do período de quarentena e distanciamento social. Estamos vivendo a história. Nossos filhos e netos irão nos perguntar daqui a alguns anos o que foi esse tal de vírus?
Vagas que já vinham crescendo e foram “turbinadas” pelo distanciamento social, em sua maioria, estão ligadas a área Digital e Consumo Básico. São áreas clássicas de necessidade humana que Maslow nos ensinou no século passado: Alimentos, Segurança e Saúde. Empresas que já tinham plataforma online de vendas largaram na frente, mas muitas se adaptaram em menos de 10 dias. Seguradoras, Telemedicina, EAD, Streamings, Empresas que oferecem ferramentas de trabalho remoto e E-commerce tiveram que contratar com urgência pessoas em diferentes níveis no epicentro da crise entre março e abril.
Setores que entraram em “quarentena” junto com as pessoas, mas não são itens de primeira necessidade, voltam gradativamente de acordo com a flexibilização das regras de distanciamento: Serviços de Beleza, Roupas, Acessórios, Eletrodomésticos e Varejo em geral ensaiam a partir do dia das mães uma recuperação mas irão apostar todas as fichas no segundo semestre onde historicamente o resultado desses segmentos são maiores mesmo.
A situação mais complexa, nesse momento, fica com as empresas que juntam fatores de risco para uma contaminação direta ou em massa: Eventos ou shows com aglomeração, empresas aéreas que levam 200 / 300 / 400 pessoas num espaço fechado pra viajar, restaurantes com pouco espaço e por aí vai. Por mais que as pessoas possam retomar a normalidade de “ir e vir” o instinto de proteção será maior. Ainda mais quando você corre o risco de chegar em casa e transmitir pra sua família. Antes de uma vacina ou imunização em massa esses segmentos irão esperar um tempo maior de retomada.
Não devemos comparar essa crise de 2020 com a de 2008 em nenhum lugar do mundo. Primeiro porque estamos muito mais parecidos com 1929 e segundo que esse problema atual envolve saúde e economia e não somente o último. O que podemos fazer é tirar como lição que empresas que desligaram mais pessoas do que deveriam há 12 anos tiveram que recontratar boa parte deles porque o mercado no Brasil voltou mais rápido comparado a outros países. Houve um custo duplo de demissão e novas contratações, inflacionando inclusive salários nos anos seguintes. Aposto em um movimento similar nessa nova década que estamos vivendo. Se o Brasil conseguir, de fato, “domar” o vírus sem colapsar nosso sistema de saúde e o estrago aqui for menor que em países Europeus e nos Estados Unidos os investimentos e confiança voltam antes também.
Não bastando as incertezas todas que nos deparamos em um curto espaço de tempo temos fatores macros que irão impactar diretamente no mercado de trabalho pro brasileiro: Política, Novas Reformas e Conjuntura Internacional serão o tripé estratégico que nos darão uma maior ou menor previsibilidade de quanto tempo nossa taxa de desemprego irá se manter alta ou não.
Teremos mais oportunidades se nossos governantes “falarem a mesma língua”, se o poder público em paralelo dar o exemplo e diminuir os gastos do dinheiro de cada contribuinte através de ajustes fiscais e administrativos e por fim, nesse jogo de xadrez desse mundo globalizado, (até então antes do novo normal) podemos nos deparar com uma nova ordem de polos econômicos se formando ao redor do mundo em áreas que representam um menor risco de imagem. E nosso país tem total capacidade em ser capaz de juntar tudo isso pra empresas do mundo todo. O trabalhador brasileiro agradecerá se isso acontecer todos os dias e não somente dia 1/Maio.